Podemos usar o neutro como condutor de proteção – fio terra?

Já que o neutro está aterrado na caixa do padrão de entrada de energia e deve ser ligado ao BEP (barramento de equipotencialização principal) situado, geralmente, dentro do quadro geral da residência, então, automaticamente, ele é um bom fio terra para ser ligado à carcaça dos equipamentos? A resposta é NÃO e vejamos porquê.

Considerando o circuito ilustrado na figura 1, temos duas cargas pertencentes a um mesmo circuito, alimentadas entre fase e neutro. Aproveitando que o condutor neutro já foi levado até as cargas e, já que ele é chamado de neutro, vamos usá-lo (erroneamente) também como condutor de proteção (PE), ainda hoje mais conhecido como fio terra.

Figura 1

Observe então, na figura 2, o caminho de circulação da corrente quando as duas cargas estão ligadas. Veja que ela circula pelo condutor fase do mesmo modo que pelo condutor neutro. A partir dessa figura, temos duas maneiras de analisar o circuito em questão para mostrar que o neutro não deve ser utilizado como PE.

Figura 2

A primeira forma, mais qualitativa, está apresentada na figura 3 e mostra uma pessoa, não isolada da terra, tocando a carcaça do equipamento. Essa situação é muito comum e corresponde à maneira mais clássica que as pessoas têm morrido eletrocutadas.

Figura 3

Ao tocar a carcaça, a pessoa estabelece um caminho em paralelo com o condutor neutro para o retorno da corrente à fonte. Recordando que, em um circuito, a corrente elétrica divide-se inversamente proporcional ao valor da resistência, quanto menor a diferença entre as resistências do circuito e do corpo da pessoa, maior a chance de a pessoa ser eletrocutada. Observe um fato curioso que pode ocorrer em uma ligação como a mostrada na figura 4: a pessoa poderá levar um choque no aparelho A, mesmo com ele desligado, se o aparelho B estiver ligado.

Figura 4

Uma outra forma de entender o problema do uso do neutro como “terra” é mais quantitativa e pode ser apresentada por meio do conceito da queda de tensão no condutor neutro. Observe a figura 5, onde se vê o circuito fisicamente e em termos de sua equivalência elétrica. Note que, ao ser percorrido por corrente, haverá uma queda de tensão no condutor neutro que é diretamente proporcional à sua impedância. Isso significa que, próximo ao eletrodo de aterramento, a tensão entre neutro e terra é praticamente nula e, na medida em que se afasta da origem, a tensão entre neutro e terra aumenta. Dessa forma, dependendo da posição em que se realizar a ligação do condutor neutro à carcaça do equipamento, poderemos estar transferindo um potencial maior ou menor para esse ponto, chegando até a colocar em risco de morte as pessoas que eventualmente tocarem na carcaça do aparelho.

Figura 5

Observando agora a figura 6, podemos entender que a utilização de um condutor neutro separado do condutor PE resolve as questões abordadas até aqui. Como pelo condutor PE circula apenas a eventual corrente de falta, a queda de tensão nesse condutor é muito pequena e o potencial da carcaça permanece praticamente sempre em torno do potencial de terra, garantindo a segurança contra choques. A corrente que circula pelo neutro não afeta o potencial da carcaça do equipamento.

Figura 6

Uma vez feitas essas considerações, podemos concluir que a utilização do neutro como terra não é adequada, mesmo no caso previsto no item 6.4.6.2 – Condutor PEN da NBR 5410. Nesse item, a norma admite a utilização do condutor neutro como condutor de proteção, em esquemas TN, quando a seção do PE for maior ou igual a 10 mm2 em cobre ou 16 mm2 em alumínio. Quando se estabeleceram essas seções mínimas na norma, pensou-se em não permitir, na prática, a utilização de condutores PEN na enorme maioria dos circuitos terminais de uma instalação residencial ou comercial, locais esses, via de regra, utilizados por pessoas BA1 (normais) e BA2 (crianças). Dito de outra forma e mais claramente, a norma (e o bom senso) não permite, por exemplo, usar o neutro de uma instalação para aterrar o chuveiro. Também não pode usar o neutro para aterrar as tomadas de uso geral de uma instalação qualquer. E assim por diante…

Em resumo, neutro é neutro e terra e terra. E se neutro fosse terra, ele se chamaria terra e se terra fosse neutro, ele se chamaria neutro. Como neutro é neutro e terra é terra, eles não são a mesma coisa. Fácil, não é mesmo?

 

 

Fonte  e credibilidade: http://www.eletricistaconsciente.com.br/blog/fique-por-dentro/artigos-tecnicos/podemos-usar-o-neutro-como-condutor-de-protecao-fio-terra/