Sistema de extra baixa tensão que tem a característica de ser separado eletricamente da terra e de outros sistemas, de tal modo que a ocorrência de uma única falha não coloque as pessoas em risco de choque elétrico. Este tipo de proteção é conhecido como SELV do termo original em inglês Separated Extra-Low Voltage. Outra maneira é por meio do sistema de extra baixa tensão, porém não eletricamente separado da terra, conhecido como PELV, também do termo inglês Protected Extra-Low Voltage, onde os demais requisitos são idênticos ao SELV.
Estes dois conceitos são normalmente empregados em situações onde o risco de choque elétrico é grande, como é o caso de iluminação de piscinas, banheiras, áreas de estacionamentos externos, como campings etc. Este conceito reduz a tensão até próximo da tensão de contato limite, ou seja, 50V na condição menos severa podendo chegar a 12V em condições de extremo risco, como é o caso de piscinas e banheiras.
Uma série de requisitos deve ser levada em consideração na definição das fontes SELV ou PELV, e estão listadas no capítulo 5 da ABNT NBR5410/04, porém não vamos entrar em detalhes neste assunto.
Outro item que aparece na ABNT NBR5410/04 em definições de proteção contra choques elétricos é o DISPOSITIVO DE PROTEÇÃO À CORRENTE DIFERENCIAL RESIDUAL, conhecido no mercado como DR simplesmente, mas por definição pode ser chamado de RCD, Dispositivo Diferencial, ou Dispositivo Diferencial Residual. Trata-se de um componente da instalação elétrica com a função de seccionar o circuito, ou seja, interromper a passagem da corrente elétrica, toda vez que a corrente diferencial – residual atinja um valor acima do valor especificado.
O DR é dividido em duas categorias, de alta sensibilidade (de 7 a 30mA de sensibilidade) e de baixa sensibilidade (de 100 a 3000mA). Cada um tem sua função: o DR de baixa sensibilidade protege contra incêndios, causados por falhas na isolação e será objeto de um outro artigo; o DR de alta sensibilidade é um item de muita importância no que diz respeito a proteção contra choques elétricos, pois na linguagem popular, supervisiona as condições da instalação elétrica quanto ao perigo de choque elétrico e atua quando uma falha acontece, fazendo com que a situação de perigo seja eliminada.
O funcionamento de um DR não é tão complexo, podemos dizer que ele é o supervisor da 1ª lei de Kirchoff, conhecida como a LEI DOS NÓS, que afirma que: a soma das correntes que chegam a um dado ponto de um circuito é igual à soma das correntes que dele partem, ou seja, que a soma algébrica das correntes em um ponto do circuito é nula.
O DR possui em seu interior um toróide que envolve os condutores fase e neutro de um circuito, e ficam a todo instante verificando se não há uma diferença entre as correntes que “entraram” e correntes que “saíram” de um ponto. Caso a diferença seja maior que o valor limite escolhido para o DR, este dispositivo secciona o circuito automaticamente (Figura 1).

Exemplificando: em um circuito que atenda as tomadas de um chuveiro elétrico protegidas por um DR, se ocorrer uma falha na isolação deste chuveiro que possa colocar em risco a integridade das pessoas e animais, o circuito será desconectado automaticamente e em uma velocidade tal que mesmo que uma pessoa esteja usufruindo deste circuito não sofra danos.
O DR de alta sensibilidade é considerado e reconhecido como proteção adicional contra choques elétricos (definido no capítulo 2 da ABNT NBR5410/2004), ou seja, ele deve ser o meio de proteção que atuará na ocorrência de falha da proteção básica e da proteção suplementar, ou mesmo em caso de descuido do usuário. Como é um dispositivo que tem a função suplementar, NÃO pode ser usado como única medida de proteção contra choques elétricos e NÃO dispensa o uso das medidas de proteção básica e suplementar.
Apesar de ser um dispositivo de proteção complementar, o uso do DR de alta sensibilidade é obrigatório, independente do esquema de aterramento, em circuitos que atendam os seguintes casos (5.1.3.2.2), além dos casos previstos no capitulo 9:
a) Os circuitos que sirvam a pontos de utilização situados em locais contendo banheira ou chuveiro (ver 9.1);
b) Os circuitos que alimentem tomadas de corrente situadas em áreas externas à edificação;
c) Os circuitos de tomadas de corrente situadas em áreas internas que possam vir a alimentar equipamentos no exterior;
d) Os circuitos que, em locais de habitação, sirvam a pontos de utilização situados em cozinhas, copas-cozinhas,
e) Lavanderias, áreas de serviço, garagens e demais dependências internas molhadas em uso normal ou sujeitas a lavagens;
f) Os circuitos que, em edificações não-residenciais, sirvam a pontos de tomada situados em cozinhas,
g) Copas-cozinhas, lavanderias, áreas de serviço, garagens e, no geral, em áreas internas molhadas em uso normal ou sujeitas a lavagens.
Algumas condições prescritas na ABNT NBR5410/04 isentam a aplicação do DR. São elas:
- A exigência do uso de DR não se aplica a circuitos ou setores da instalação concebidos em esquemas de aterramento IT, visando garantir a continuidade do serviço.
- Pontos de alimentação de iluminação posicionados a uma altura igual ou superior a 2,5 metros.
- Quando o risco de desligamento de congeladores, por atuação intempestiva da proteção, associado à hipótese de ausência prolongada de pessoas, significar perdas e/ou consequências sanitárias relevantes. Neste caso, recomenda-se que as tomadas que atendam a estes equipamentos sejam protegidas por DR de alta sensibilidade e imunidade a perturbações transitórias, garantindo seletividade entre os dispositivos DR a montante. Caso não seja usado DR nestes circuitos, pode-se usar separação elétrica individual.
Como pudemos ver, a proteção contra choques elétricos requer uma série de requisitos, que devem ser previstos, ou implementados em uma reforma.
Equipotencialização como proteção contra choques elétricos
É fato que o choque elétrico ocorre devido a uma diferença de potencial entre duas partes, gerando uma corrente elétrica que ao passar pelo corpo humano pode levar ao óbito. Mas antes de falar de equipotencialização propriamente dito, vamos a alguns conceitos para entender o porquê devemos equipotencializar algo:
- Tensão de contato: Tensão que pode aparecer acidentalmente por falha de isolação entre duas partes simultaneamente acessíveis;
- Tensão de Toque: Tensão estabelecida entre mãos e pés causados pelo toque em um equipamento com tensão de contato;
- Tensão de passo: Uma corrente descarregada para o solo eleva o potencial em torno do eletrodo de aterramento formando um gradiente (distribuição) de queda de tensão com ponto máximo junto ao eletrodo e diminuindo quanto mais se afasta.
O termo EQUIPOTENCIALIZAÇÃO é apresentado na norma ABNT NBR5410 versão 2004 no item 3.3.1 e possui a seguinte definição: Procedimento que consiste na interligação de elementos especificados, visando obter a equipotencialização necessária para os fins desejados. Por exemplo, a própria rede de elementos interligados resultante.
Uma nota logo abaixo do item acima cita o seguinte: A equipotencialização é um recurso usado na proteção contra choques elétricos e na proteção contra sobretensões e perturbações eletromagnéticas. Uma determinada equipotencialização pode ser satisfatória para a proteção contra choques elétricos, mas insuficiente sob o ponto de vista da proteção contra perturbações eletromagnéticas.
Diante dos conceitos apresentados acima, vamos tentar traduzir o sentido equipotencialização. Equipotencializar é deixar tudo no mesmo potencial, ou seja, fazer com que sejam eliminadas as tensões de contato, toque e passo, através de uma interligação de baixa impedância. Na prática, isso não é tão fácil assim, o que ocorre é que com a equipotencialização se minimizam os potenciais entre duas ou mais partes, reduzindo assim as tensões perigosas que podem causar acidentes com choques elétricos.
A equipotencialização deve ser aplicada em todas as edificações como cita o item 5.1.2.2.3.2 da ABNT NBR5410/2004: “Em cada edificação deve ser realizada uma equipotencialização principal. E complementa com os itens: 5.1.2.2.3.3 – Todas as massas da instalação situadas em uma mesma edificação, devem estar vinculadas a equipotencialização principal da edificação e desta forma a um mesmo e único eletrodo de aterramento – 5.1.2.2.3.4 – Massas simultaneamente acessíveis devem estar vinculadas a um mesmo eletrodo de aterramento”.
Com os itens acima podemos chegar a seguinte conclusão, todas as partes metálicas e não energizadas de uma edificação devem ser equipotencializadas de forma a não oferecer perigo aos usuários. Partes metálicas estas que são enumeradas no item 6.4.2.1.1 como podemos ver:
Em cada edificação deve ser realizada uma equipotencialização principal, reunindo os seguintes elementos:
- Armaduras de concreto e outras estruturas metálicas da edificação;
- Tubulações de água, gás, esgoto, ar condicionado, vapor, bem como os elementos estruturais a elas associadas;
- Condutores metálicos das linhas de energia e de sinal que entram e/ou saem da edificação;
- Blindagens, armações, coberturas e capas metálicas de cabo de linhas de energia e de sinal que entram e/ou saem da edificação;
- Condutores de proteção das linhas de energia e de sinal que entram e/ou saem da edificação;
- Os condutores de interligação provenientes de outros eletrodos de aterramento porventura existentes ou previsto no entorno da edificação;
- O condutor neutro da alimentação elétrica, salvo se não existir ou se a edificação tiver que ser alimentada, por qualquer motivo, em esquema TT ou IT;
- Os condutores de proteção principal da instalação elétrica (interna) da edificação.
Esta equipotecialização principal deve reunir todas as formas de aterramento em um único ponto, denominado BEP – Barramento de Equipotencialização Principal. Vale lembrar que o termo barramento significa somente uma via de ligação e não necessariamente deve ser constituída de uma barra, podendo ser uma chapa, um cabo, conectores etc. Para efeito de apresentação é aconselhável que se use uma barra de cobre com pontos de interligação, pois além de apresentável, ainda contribui para a melhor visualização e inspeção.
É possível que haja vários barramentos de equipotencialização em uma edificação reunindo parcialmente os diversos sistemas, estes barramentos são chamados de BEL – Barramento de equipotencialização suplementar ou Barramento de equipotencialização Local. Neste caso os BEL´s devem ser interligados ao BEP, constituindo assim uma equipotencialização completa.
A equipotencialização aparece também na NR-10, no item 10.5.1-d, do capítulo 10.5 – Segurança nas instalações elétricas desenergizadas, e 10.5.1, que versa sobre a liberação do trabalho de uma instalação desenergizada que só é considerada desenergizada depois que atender uma série de requisitos e entre eles está a equipotencialização: instalação de aterramento temporário com equipotencialização dos condutores do circuito. Ou seja, depois de constatado que não há tensão, deve ser instalado um conjunto de condutores que farão a equipotencialização do potencial de todas as partes metálicas no ponto de trabalho, garantindo assim ao trabalhador que este não será vitima de tensões perigosas.
Conclusão
O objetivo deste artigo foi trazer uma breve explanação sobre os itens de proteção contra acidentes de eletricidade com base na norma de instalações elétricas de baixa tensão ABNT NBR 5410/2004. Podemos observar com esta pequena introdução que o Brasil não possui problemas de regras, normas, regulamentos ou legislação para estabelecer a segurança, mas sim a cultura enraizada do baixo investimento em segurança, sobretudo a que diz respeito ao uso e ao trabalho com eletricidade. É importante disseminar estes assuntos junto à comunidade e parceiros para que seja um fator de mudanças futuras.
Fonte e credibilidade: https://abracopel.org/download/protecao-nas-instalacoes-eletricas-parte-2/